"Uma coisa é você respirar.
Outra completamente diferente é você tomar a decisão de colocar ar pra dentro dos pulmões segundo sim, segundo não. Sim, é instintivo, é um reflexo, mas por inúmeras vezes já me flagrei cogitando privar meu sangue desse oxigênio que, aos poucos, escasseia, mas ainda me cerca em abundância. É que, em tudo que eu faço, existe uma intenção - por vezes inconsciente - de fazer com que tudo, pelo menos, pareça ter saído conforme planejado. Finjo ter previsto tudo que hoje me acontece quando, na verdade, mal sei onde meus pés me levarão no próximo passo. Espero pelo intenso, nada muito exagerado, somente algo que me faça perder o ar. Sendo instintiva sem reflexo.
São 7 horas da manhã e eu estou aqui em lugar estranho , digitando no computador de outra pessoa e meus pulmões precisam de mais ar do que eu posso dar a eles. Respiro rápido, quase ofegante, logo, sem tempo de pensar. Os dias são cada vez mais curtos e coisas têm acontecido de forma tão rápida e intensa que muitas coisas têm me escapado aos olhos. Quando as vejo, já são pegadas, rastros, ou pequenas silhuetas difusas no horizonte que eu deixei pra trás.
Sou pega de surpresa pela sensação de caminhar sobre a mais fina camada de gelo, combinada pela paranóia de processar, de arquivar e documentar tudo a que tenho sido acometida. Algo me diz, lá no fundo, que absolutamente tudo pelo que tenho passado é e vai ser muito importante. Muito importante.
Enfim, é bom sentir medo. Estranho é estar inseguro. É bom não saber o que acontece amanhã. Ruim é não ter o que fazer hoje.
Então, passa pra mim que eu jogo na lateral esquerda. Corro o mais rápido que posso, sem jamais olhar pro lado. Chegando na ponta da área, eu não cruzo. Meto uma bica rumo à meta. Quase sempre pra fora. O centro-avante reclama do meu individualismo.
Eu sempre amarro minhas chuteiras como se me preparasse para o jogo da minha vida. O juiz autoriza a saída de bola, e hoje é dia de gol. "
Logo depois que eu terminei isso, tive uma conversa que parecia não terminar mais, mas era boa.. apesar de os meus pensamentos estarem bem longe.
A pessoa que me acompanha nessa conversa pára e fica me olhando, escreve algo e eu fico com a maior cara de boba sem saber o que dizer.
Por mais que tenha sido escrito da forma mais estranha e inesperada, essa palavras traduzem um pouco do que penso e sinto nesses últimos dias.
[ Não sei se é todo esse tempo que passou, ou o pouco tempo que ainda falta passar.][ Não sei se é o pouco que já se viveu, ou tudo que ainda nos resta viver.][ Não sei se é o pouco que eu sei sobre você, ou o muito que ainda tenho pra descobrir.][ Eu não sei de muitas coisas, mas poucas vezes tive tanta certeza de algumas.][ Eu preciso da tua presença para, pela primeira vez, sentir genuína saudade.][ Eu preciso de você aqui, pra nunca mais te querer em outro lugar.] João Oliveira.
No fim, me levantei e peguei minhas coisas e disse:- Obrigada pela noite, João.
Ele:
- Uma grande noite para fazer desaperecer um dia estressante.
Olhei para ele e baixei os olhos rapidamente, me despedi com um pequeno e rápido beijo no rosto.
Ele pergunta:
- Gostou do texto? Imagino que não, eu não tenho esse costume .
- Sim, achei bem interessante. Gostei.
Ele sorriu.
- Mas, alguém já me acertou os botões. Ou melhor, bem mais que isso.
Ele fez um cara de quem não estava sabendo de nada.... eu abri a porta do elevador e segui meu caminho para inciar o dia de maior paixão, dia de GRE-nal.
Lis(i) Flores.